USOS DA LINGUAGEM COMO JANELA PARA O PENSAMENTO ANALÓGICO EM REDE



DA PESQUISA ACADÊMICA AO BLOG
There is a photo sharing explosion as a result of the 600 million Facebook users around the world connecting with their friends through the common language of photos (…). Pixable Blog

Estatísticas sobre o número e fotos adicionadas, marcadas e compartilhadas na maior rede social virtual do mundo na atualidade são reveladoras sobre o comportamento comunicativo da aldeia global digital. 6 bilhões de fotos postadas a cada mês, por jovens e adultos, no cômputo de 2011 (Pixable 2011). 9 bilhões mensais em 2012 (http://royal.pingdom.com).

Tirar e compartilhar fotos já são hábitos comunicativos digitais. 

Uma questão talvez mais interessante é a de que os posts na rede estão centrando-se cada vez mais em imagens, de modo que a escrita e a leitura de textos verbais estão ficando em segundo plano. As imagens, assim, mostram-se, neste momento, como o input mais ostensivo das redes, sendo a linguagem comum dos diálogos e os maiores memes virtuais, como parte essencial do ambiente cognitivo mútuo dos usuários. 

Algumas questões, então, mostram-se pertinentes. Para formulá-las e respondê-las, mesmo que parcialmente, modelos complexos de interface são o foco dos Programas de Pesquisa na área (como o PPLLN); isto é, modelos teóricos que contemplam propriedades comunicativas, cognitivas, lógicas, computacionais, linguísticas estão assumindo centralidade no universo das pesquisas internacionais com relevância explanatória e potencial de aplicação. 

Em primeiro lugar, programas estatísticos e análises qualitativas de dados da rede mostram-se a base de inúmeras hipóteses de pesquisa; em segundo lugar, tratamentos lógicos estão tomando dimensões significativas nos estudos sobre a racionalidade e o comportamento comunicativo humanos, de modo que um modelo de análise dos processos de significação como o peirceano apresenta possibilidade de contribuição significativa. 

É por esse motivo que é válido assumir em muitos aspectos a abordagem peirceana no que se refere às relações icônica, analógica e simbólica de representação, assumindo-se, para além, relações inferenciais na perspectiva da interferência dos meios (McLuhan 1964) sobre os conteúdos (Costa 2013) e da atuação de princípios de conexão não trivial (Costa 2004) e de relevância (Sperber e Wilson 1995).

Considerando os estudos de Rein e Markmen (2010), observa-se que as relações de abstração no tocante ao raciocínio são afetadas pela percepção de concretude dos objetos e das relações entre os objetos. Haveria um sentido geral de similaridade? (ver p. 1455). Como se daria, assim, a representação de comparação entre dois sistemas relacionais? 

De acordo com os autores, é mais difícil fazer uma quebra nas relações originais de papéis dos objetos existentes do que simplesmente inserir novos objetos em um sistema de relações conhecido, de modo que seria menos confuso ver um leão perseguindo uma gazela (objetos novos, por hipótese) do que um rato perseguindo um cachorro (papéis invertidos, objetos familiares).

O que estaria em jogo, no fim, seria a habilidade de agentes cognitivos de identificar novos estímulos-padrão e de realizar transferências de padrão com graus de abstrações diversos.

Na visão peirceana, há três relações entre objetos e agentes cognitivos em um universo de abstração: semelhança, contiguidade e arbitrariedade. Os objetos, por tal modelo, são vistos enquanto entidades intermediadas por signos, que estão em uma relação com os objetos de referência. 

No universo da Web 2.0, temos uma diversidade de signos e de relações entre eles, como podemos perceber:


Tais signos estão em uma relação icônica (semelhança com o objeto) e simbólica (relação arbitrária com o objeto). Poderíamos, assim, nos perguntar por que as imagens, em suas diversas relações sígnicas, ganham destaque nas redes virtuais. 

Como hipótese acerca desse cenário, temos que a transferência de traços de qualidade estaria relacionada cognitivamente a uma facilidade de o sistema processar relações icônicas, aliada à simplificação da comunicação codificada, tendo em vista leis de economia e relevância. 

Um sistema de comunicação mais econômico (como o imagético) e com grande potencial de gerar informações (derivadas, não expressas ou não codificadas) mostra-se eficaz em um cenário em que o ato comunicativo teria uma dupla função: (i) conexão entre as partes; (ii) transmissão de informação para tomadas de decisão.

A nossa cognição maximizaria, assim, as informações em um ambiente de processamento facilitador. Se temos um módulo visual evoluído na relação com a linguagem (Dehaene 2009), tendemos a maximar a sua funcionalidade. Na visão de que a derivação de inferências é um mecanismo altamente eficaz na geração de informações com base em estímulos prévios, podemos pensar que o nosso sistema tenderá a processar certos tipos de informação mais eficazmente em suas relações optimais (como padrão de semelhança, por hipótese). Assim, um sorriso, um gesto, uma fala semelhante são capazes de gerar cadeias de implicações sucessivas e involuntárias, como forma de o sistema operar.

Em um meio facilitador (Web 2.0), podemos investigar consequências para o próprio sistema cognitivo, que tenderá a se adaptar ao ambiente.

Referências

COSTA, J. C. A estrutura inferencial da comunicação dialógica. [recurso digital], 2004.
DEHAENE, S. Reading in the brain. NY: Penguin, 2009.
MCLUHAN, M. Understanding media: the extension of man. NY: Mcgraw-Hill, 1964.
PEIRCE, C. S. Semiótica. SP: Perspectiva, 1977.
REIN; J.R.; A.B. Assessing the Concreteness of Relational Representation. Journal of Experimental Psycology: Learning, Memory, and Cognition. 2010. Vol. 36, Nº 6, 1452-1465.
SPERBER, D.; WILSON, D. Relevance: communication and cognition. Oxford: Blackwell, 1995.

Comentários

Postar um comentário