Derived Environment Effects in Optimality Theory


Derived Environment Effects in Optimality Theory
(Efeitos do Ambiente Derivado na Teoria da Otimidade)
Anna Lubowicz


Este post é dedicado a uma questão bastante pontual da área de fonologia. Como este blog é um espaço multiforme, também são os seus textos! Para quem interessar possa, just enjoy it! Trata-se de uma exposição das ideias centrais do texto de Lubowicz citado acima.

Apresentação: o artigo mostra como efeitos do ambiente derivado podem ser entendidos dentro do arcabouço da Teoria da Otimidade, de Prince e Smolensky (1993), através do uso da Conjunção Local (LC) de restrições (Smolensky, 1995, 1997), de forma a abordar os efeitos da Condição do Ciclo Estrito (CCE) e trazer implicações tipológicas. Como exemplo de ambiente fonologicamente derivado, é analisado o processo de sibilação, ou espirantização / fricativização, na sua interação com a palatalização velar, no polonês, mostrando como esse tipo de efeito do ambiente derivado é, inicialmente, problemático para a TO.

Ideia básica: uma restrição marcada é conjugada a uma restrição de fidelidade, em um determinado domínio, de modo que a restrição marcada é ativada, forçando uma alternância fonológica, somente quando uma restrição de fidelidade for violada.

Problema: no polonês, a estrutura subjacente /g/ sofre o processo de palatalização, segundo o qual velares se tornam alveopalatais diante de vocoides anteriores (cf. 2a), e de sibilação (cf. 2b), de modo a ter como output um fricativo alveopalatal sonoro (z). Entretanto, quando o africado alveopalatal /j/ está presente na estrutura subjacente, ele vem à superfície sem sofrer aplicação de regras, cabendo a pergunta: por que a estrutura subjacente /g/ sofre ambos os processos? Se somente aplicasse a regra de palatalização, viria à superfície a realização /j/ e não /z/; porém, o segmento j emerge na língua.

Solução pelo CCE: Rubach (1984) propõe que o polonês tem uma regra de sibilação sujeita à CCE, ficando restrita a um ambiente derivado resultado da aplicação prévia da primeira palatalização velar (cf. 3).

Problema para a TO: é assumido que vogais anteriores são coronais. Em sequências palatalizadas, o nó coronal da vogal é estendido para o segmento velar precedente, de modo a violar IDENT (coronal). A autora também assume que africados em polonês são oclusivas estridentes, de forma que a aplicação de sibilação envolve uma mudança do traço [-contínuo] para [+contínuo], violando IDENT (contínuo). Uma abordagem pela TO, então, seria excluir j como output em geral, bloqueando realizações do segmento derivado ou subjacente. Uma segunda alternativa seria permitir j em geral, mas não haveria como proibir j derivados. Ambas as possibilidades, desse modo, recaem ou em um paradoxo de ranqueamento, ou em uma gramática mal formada.

    Visualização da má formação gramatical: (cf. 3) como há manifestação de j na superfície do polonês, conclui-se que a restrição de marcação para tais realizações deve ser ranqueada abaixo da restrição de fidelidade relativa a oclusivos alternando para fricativos (cf. 4). Como *j é ranqueada baixa, tanto a forma subjacente /j/ como j derivados da forma subjacente /g/ deveriam vir à superfície, de modo a esperarmos a realização em (3a) com a forma africada e não com a forma real, fricativa. Assim, não há como deter a forma j de vir à superfície, apesar de os dados indicarem o contrário.

   Visualização do paradoxo de ranqueamento: enquanto a derivação j proveniente da forma subjacente g violaria apenas a restrição de fidelidade IDENT (coronal), o output real z viola não somente IDENT (coronal), mas também a restrição de fidelidade IDENT (contínuo) (cf. 5). Como a TO explica que uma realização com restrição de fidelidade duplamente violada é ótima?

Proposta: a restrição de marcação contra africadas alveopalatais (*j) é ativada pela violação da restrição de fidelidade IDENT (coronal), cuja ativação se dá pela conjunção local das restrições (cf. 7).

Argumentos: para escolher o candidato com dupla violação de fidelidade como ótimo, a restrição IDENT (contínuo) deve ser interpretada como irrelevante; assim, mesmo que a restrição marcada seja baixa no ranqueamento, parece que a africada j não pode vir à superfície se for resultado de uma regra de palatalização. Nos termos da TO, a restrição marcada j ranqueada baixa é ativada se, e somente se, há mudança de /g/ para coronal, ou seja, quando IDENT (coronal) é violada.

Em polonês, a conjunção local de restrições é ranqueada acima de IDENT (contínuo), ou seja, a restrição *j e a IDENT (coronal) não podem ser violadas juntas dentro de um mesmo segmento, de modo a ativar a violação de IDENT (contínuo) (cf 8; 9). Quando temos o africado j como forma subjacente, a conjunção local de restrição não atua (cf. 10; 11).

Características de ambientes fonologicamente derivados: (i) o status especial de segmentos subjacentes; (ii) a aparente não-motivada dupla violação de fidelidade no mapeamento vigente, e (iii) a propriedade da alternância fonológica de ser livre de contexto, adicionando uma violação de fidelidade não-motivada.

Implicações tipológicas: ao estabelecer permutações de ranqueamento, permutações livres devem ser limitadas por ranqueamentos universalmente fixos. Uma alegação da conjunção local é de que a restrição localmente conjugada domina as restrições que compõem o domínio, isto é, a de marcação e a de fidelidade (cf. 21).

Conclusão: em polonês, o efeito da conjunção local expressa que a restrição marcada j é somente relevante quando IDENT (coronal) é violada, o que ocorre somente quando j não é input. Considerando-se que a TO deve explicar a motivação do ranqueamento aparentemente menos fidedigno se sobrepor, a explicação apresentada é de que a Conjunção Local de restrições é responsável por tal resultado. A ideia central defendida cobre todos os casos legítimos de ambientes fonologicamente derivados, uma vez que uma restrição marcada ranqueada baixa é ativada, resultando em uma alteração fonológica, somente quando uma restrição de fidelidade for violada dentro do mesmo segmento. A proposta também traz permutações de ranqueamento, de modo a abarcar a aplicação normal e o bloqueio em todos os ambientes.

Há duas questões a serem revistas no texto, mas fica para outro post!

Obs: texto entregue para disciplina do Mestrado em Linguística.

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