Ao observarmos as redes sociais, em meio digital ou não, parece claro que há uma tendência cognitiva para a conexão (COSTA). Ao mesmo tempo, a observação também sugere que um grupo considerável de pessoas, nas mais variadas culturas, demonstra ficar pouco confortável na interação presencial cotidiana.
No passado, estar oculto pelo próprio grupo, ser apenas um entre muitos era uma precondição normal para alguém se sentir à vontade (TADA, 2009:84).
A leitura dessa segurança no meio grupal pode ter várias perspectivas e consequências na comunicação, para além da aparente invisibilidade, segurança ou ocultação em meio a um grupo.
Mesmo atualmente as mulheres não conseguem se sentir verdadeiramente relaxadas em uma sala de visitar projetada de acordo com o estilo mais direto e aberto de conhecer os outros; e até mesmo os homens mais fracos e sensíveis fumam excessivamente nessas circunstâncias. E por falar em fumar excessivamente, considero uma peculiaridade dos japoneses o fato de fumarmos muito durante as refeições em restaurantes ou em situações públicas semelhantes. Acredito que isso deva ser outra manifestação de hanikami, isto é, outra maneira de evitar ou abrandar a tensão produzida pelo encontro com as pessoas. Apesar disso, na sociedade atual, a taiwa [conversação] é realizada de maneira relativamente forçada ou imposta (pgs. 90-91).
Parece um tanto estranho, mas habitual e semelhante a outras faculdades, haver uma tendência para a comunicação e ao mesmo tempo esta ser tão sofrível para a cognição humana. Os atos de cumprimentar, encarar e despedir-se, por exemplo, implicam no ato de aproximação e a maior temeridade parece residir nessa manifestação. Se a metaconsciência tem de fato um papel a cumprir na peculiaridade humana, quais respostas teóricas, dentro de suas perspectivas, são relevantes à questão da aparência tão naturalizada da comunicação à distância e do incômodo da conversação presencial. Em relação às respostas possíveis, seriam tais explicações-tese complementares? Entre as alternativas teóricas que despontam, estão as derivadas da Teoria da Relevância (Sperber&Wilson) e da Teoria da Conectividade Não-trivial (Costa).
Dentre tantas possibilidades, poderia, então, defender-se o argumento de que, em realidade digital, tem-se o benefício sem um grande custo, o da aproximação. As pessoas querem se conectar sem se aproximar, quase paradoxalmente. A aproximação gera muitos custos de diferentes ordens. A comunicação em meio digital é grupal, é forma-conteúdo e exige conexão, mas descomprometida ou distanciada, uma vez que é pouco custoso desconectar-se. A proximidade é indivíduo-indivíduo ou indivíduo-grupo e exige comprometimento; manter a proximidade exige um nível maior de conexão.
Referências
COSTA. J.C.: A Estrutura Inferencial da Comunicação Dialógica. http://www.jcamposc.com.br/projetos_e_pesquisas/A%20Estrutura%20Inferencial%20da%20Comunica%C3%A7%C3%A3o%20Dial%C3%B3gica.pdf
TADA, M. A Cultura Gestual Japonesa: manifestações modernas de uma cultura clássica. São Paulo: Martins Martins Fontes, 2009.
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