Vejamos aspectos interessantes relativos ao estudo divulgado na http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature09923.html, discutido na http://www.nature.com/news/2011/110413/full/news.2011.231.html#B1 e parcialmente exposto na http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/902523-estudo-ataca-suposta-existencia-de-uma-gramatica-universal.shtml.
O que salta à vista é que a argumentação de um grupo de renomados estudiosos (entre eles, Levinson, que trabalha com uma teoria na interface Semântica/Pragmática - descritivamente bastante pertinente, mas explanatoriamente carente - e que já defende a fragilidade dos universais há algum tempo) parece pecar em sua tese por um erro comum em Ciência: nos valermos de argumentos insuficientes ou de diferentes ordens e chegarmos a uma conclusão inválida. Acontece!
Eis os raciocínios defendidos, colocados de maneira pouco elaborada:
1 não há padrões de ordem-de-palavras entre famílias de línguas ao longo de sua evolução
2 sendo 1 verdadeiro, então reforçamos a tese de que as línguas evoluem idiossincraticamente, logo as línguas não são governadas por padrões universais
3 sendo 2 verdadeiro, logo não temos evidência para corroborar a tese de que há princípios cognitivos gerais que restringem as possibilidades paramétricas nas línguas
4 tomando-se 1, 2 e 3, logo a Universalidade não é uma tese válida
E qual é o suporte apresentado para tais raciocínios?
Baseados em dados estatísticos (válidos, mas suficientes?) da combinação de parâmetros de 4 famílias de línguas, no que se refere a restrições de ordem dos elementos na estrutura (word-order – um Princípio, cujas línguas apresentam seus Parâmetros), o grupo observou que a história evolutiva dessas famílias indicaria que não há grande correlação de traços de ordem para além das estabelecidas no interior de cada família.
Assim:
First, contrary to the generative account of parameter setting, we show that the evolution of only a few word-order features of languages are strongly correlated. Second, contrary to the Greenbergian generalizations, we show that most observed functional dependencies between traits are lineage-specific rather than universal tendencies.
These findings support the view that—at least with respect to word order—cultural evolution is the primary factor that determines linguistic structure, with the current state of a linguistic system shaping and constraining future states.
Ou seja, haveria na evolução das línguas observadas poucas características de ordenamento “fortemente” correlatas, bem como as dependências “mais funcionais” entre os traços seriam de ordem de linhagem, e não características universais. Logo, a evolução cultural seria o fator primordial determinístico da estrutura linguística.
Quanto à reportagem sobre o estudo:
They found that neither of the universalist models matched the evidence. Not only did the co-dependencies that they discovered differ from those predicted by Greenberg's word-order 'universals', but they were different for each family. In other words, the deep grammatical structure of every family is different from that of the others: each family has evolved its own rules, so there is no reason to suppose that they are governed by universal cognitive factors.
What's more, even when a particular co-dependency of traits was shared by two families, the researchers could show that it came about in different ways for each, so it was possible that the commonality was coincidental. They conclude that the languages — at least in their word-order grammar — have been shaped in culture-specific ways rather than by universals. (Grifos meus)
A questão é que, em termos teóricos, mesmo que houvesse a queda de um Princípio - o da ordem-de-palavras na estrutura -, que não é o caso, pois se discute a variação dele, isto é, os Parâmetros, ainda assim não haveria evidência suficiente para invalidar a tese da universalidade (UG/GU). Teria que haver indícios que falseassem a existência de Princípios.
O argumento parece claro na réplica trazida por Dryer:
There is no reason to expect a consistent pattern of word-order relationships within families, he adds, regardless of whether they are shaped by universal constraints.
O que se contesta, no fim, são os modelos de parametrização, e isso, sim, pode ser melhor elaborado nas diferentes versões dos modelos gerais.
Haspelmath says that it might be more valuable to look for what languages have in common than to measure how they (inevitably) differ. Even if cultural evolution is the primary factor in shaping them, he says, "it would be very hard to say that cognitive biases play no role at all".
Considerando toda a contribuição da Filosofia da Ciência, antes de procurarmos o Cisne Negro, temos que ter a descrição clara que nos permita identificar o Cisne Branco. Assim, de fato, é relevante identificar o que seria universal nas línguas como índice da Faculdade da Linguagem e sua organização, para, então, buscarmos a refutação da tese e um modelo mais adequado ao tratamento do problema bastante complexo.
http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/fala+humana+surgiu+na+africa/n1300073502455.html
ResponderExcluirhttp://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=4&n=10325