Ele precisava dizer-lhe que descobrira o que faltava na sala. Na verdade, o que faltava era algo independente da sala da presidência, da empresa como um todo, até mesmo da casa. A necessidade imposta naquele momento era pessoal, era paternal, era uma lacuna que só um sorriso de um sangue de seu sangue poderia preenchê-la. Resolveu falar com a mulher pessoalmente, era um assunto demasiadamente delicado e superior em urgência a qualquer um de seus compromissos até hoje.
- Espere por mim, logo estarei aí.
- Tudo bem, não estou entendendo nada mesmo.
- Senhorita Márcia, por gentileza, cancele todos os meus compromissos, ficarei ocupado pelo resto do dia.
Na decida pela escada, ficou pensando em rostos infantis, em brinquedos, em gastos, em festinhas, em um monte de coisas que o fizeram penetrar o olho em algo que brilhava muito vivamente. Os pensamentos se esforçaram para desvendar aquele enigma, ele já estava no térreo, na porta do edifício, na entrada principal. Abaixou-se lentamente, curvou os joelhos e torceu o tronco até que pudesse alcançar aquele objeto.
- Vejam só, uma moeda de um real, que bela peça do tesouro nacional!
Todos riram em silêncio. Ele notou. Recompôs-se. Há quanto tempo não agarrava uma daquelas, eram tantos cartões de crédito, cheques, saques de notas altas e médias, eram os funcionários que costumavam realizar as transações financeiras. Era isso, um funcionário distraído provavelmente deixara cair aquela moeda. Ficou brincando com o material cunhado e quase que automaticamente se dirigiu à saída, entrou no carro e rumou para casa.
O trânsito àquela hora era insuportável.
A mulher, no sofá, abismada, nunca vira o marido sair do trabalho por assuntos daquela natureza. Filho? Por quê? Agora? Não.
A mulher, no sofá, abismada, nunca vira o marido sair do trabalho por assuntos daquela natureza. Filho? Por quê? Agora? Não.
Mais um sinal vermelho. Já não aguentava mais. A pressa por falar a respeito do seu filho, ou filha, já não importava o gênero, era imensa e dominava sua alma.
A voz repetia:
- Só um trocadinho.
O vidro estava entre-aberto, que descuido! Retornou os olhos ao momento da situação, seu olhar fitou o dela, ele quase parou de respirar, seus músculos se comoveram diante de tal criatura. Ela transmitia uma paz sem tamanho. Mas como? Ela era um ser de rua, maltratada e velha, ela era linda de algum modo. De repente, lembrou-se da moeda. Onde a metera? Começou a revistar os bolsos, o terno, as mãos passavam e repassavam pela roupa de um jeito nervoso.
- Se não tiver, não tem problema. – disse aquela voz idosa e doce, cheia de vida.
Ali estava ela, sim, a havia depositado no porta-luvas. O sinal abrira. Ele nem percebeu. Os carros começaram a buzinar, incompreensíveis, tinham seus compromissos inadiáveis. Ela sorriu.
- Deus te abençoe, filho.
Ele arrancou o carro, precisava falar e ouvir.
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