A Língua Portuguesa vai bem, muito obrigada, e manda lembranças

A história das línguas mostra a natureza mutável destas. Somente línguas mortas não sofrem influência e se alteram. Contudo, ainda que haja influência de uma língua sobre outra o que a define como tal é seu sistema sintático e fonológico, sobretudo. A partir do momento em que houver alteração nesses sistemas surgirá outra língua. Não é o caso da Língua Portuguesa, que está muito bem, obrigada, e manda lembranças.
Não irei retomar a história da evolução de nossa língua materna desde o latim. Mas citarei algumas culturas influenciadores do léxico, de preferências de estruturas sintáticas (já previstas no sistema sintático), e também da prosódia, focando o sul do país: africana, indígena – a lista de culturas específicas é grande dentro dessas duas—, italiana, alemã e espanhola.
Quando uma língua toma emprestado um vocábulo, este terá a pronúncia adaptada ao sistema fonológico e será empregado de acordo com o sistema sintático. Se um falante nativo de Língua Portuguesa ouvir uma palavra na qual haja uma sílaba de sequência CCV em que a primeira consoante seja /v/ e a segunda /L/, por exemplo, e este for perguntado se esta é uma palavra do nosso idioma, ele responderá que não. O mesmo acontece com a sequência CCCV, como through. A Língua Portuguesa não aceita três consoantes seguidas em uma mesma sílaba.
O projetito de lei foca-se sobre palavras estrangeiras, como todos devem ter ouvido – adoro as pérolas linguísticas que ouvi dos defensores. Entretanto palavras que não são ou não foram traduzidas não tem equivalente ou não tem tradução relevante (na relação custo-benefício) em português. Como é o caso de palavras técnicas, principalmente de tecnologia – afinal somos importadores dessa.
Sempre que há culturas em contato, há influências de umas sobre as outras. Esse é um processo natural não apenas no que diz respeito à língua. A cultura que está em maior evidência -- por questões culturais, tecnológicas, econômicas ou políticas – será aquela que mais influenciará as demais, sem, no entanto, ficar imune de também ser influenciada em um nível ou outro. Mesmo os Estados Unidos, alvo descarado de Carrion, incorpora palavras de vários outros idiomas, incluindo o nosso.
A lei defendida por Carrion, sem fundamento científicos – diga-se de passagem –, tende à xenofobia. Dizer que precisamos defender a Língua Portuguesa por queremos nos evidenciar no quadro político internacional demonstra falta de conhecimento sobre o funcionamento das línguas e de sua evolução.
O falante é senhor absoluto da língua, como diz o prof., doutor em linguística, Gilberto Scarton.
Alguns links relacionados:
Entrevista do Dep. Carrion
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=152633&id_secao=1
Debate sobre o projeto (com participação do professor e escritor Cláudio Moreno)
http://www.youtube.com/watch?v=IRMlo3h5Fro&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Exs4ecV9XOE&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=4JvscF3QmZo&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Q3J-UZyokMA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=UNO7MezzfO8&feature=related

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