Leitura e pensamento. Se a forma de leitura, através do meio em que se apresenta o texto e de nossa forma de interação com ele, influencia na forma do pensamento, se pode dizer, ao pensar sobre como se pensa a partir da/a própria mídia impressa, que o livro imprimiu ao conteúdo-forma do pensado (crenças) a sensação de dogmatismo, de hermetismo, de verdade. Ler, assim, foi tido como um verdadeiro método de conhecer verdades. A leitura em mídia digital flexibilizou a forma da leitura e seu conteúdo; com aquela, o pensamento do senso comum passou a absorver mais dados e menos teses, mais informação e menos organização, mais conteúdo e menos formalismos. Na Era Digital, o conteúdo e a forma, em grande volume, não estão mais prontos, e sim em processo de feitura, mas já em compartilhamento. A questão é em que extensão a forma do pensamento será afetada (para além da morfologia do cérebro e da memória, mas na interação dos diversos fatores) e em que extensão isso será culturalmente relevante.
Conseguir abstrair conclusões de premissas a serem formadas é um desafio ao pensamento, organizar dados e contextualizá-los são tarefas fundamentais. A forma do cérebro já está se adaptando ao novo ambiente, resta-nos saber se nossa cognição o fará de forma a gerar mais benefícios a partir de um custo aparentemente menor. Assumindo-se esta como uma tendência cognitiva mais básica, a resposta parece clara. O que se segue, então?
Grande produção e absorção de conteúdo multimídia (volume de conteúdo); pensamento menos linear (multi-tarefa/disciplinar...); mais áreas do cérebro em contato (mente não-modular); memória de trabalho dominante (empobrecimento de conteúdos armazenados/de estoque de longo prazo); descentralização de meios de comunicação/educação (escolas, cursos, universidades, etc.); redimensionamento dos agentes de informação (professores, comunicadores, etc.); necessidade de planejamento/organização da informação/sistema (Projeto Google, etc.); comunicação prioritariamente midiatizada (ferramentas, extensões); autodidatismo (individualização); valoração dos centros de referência (pontos de convergência da informação veraz); valoração da tradição (retorno a crenças antigas); investimento em projetos de futuro próximo (adaptação, competitividade); obsolescência acelerada de formas e conteúdos... Mas, e se a nossa cognição tem uma tendência ainda maior para a inércia? O que se segue dessa combinação? Por hora, diria apenas que o orientador, seja uma pessoa ou grupo, foi e é uma figura central ao pensamento.
Sobre o fazer do professor universitário. A maior contribuição de um teórico da área é explicitar premissas e conclusões relevantes. Trazer dados, contextualizá-los e fazer com eles relações produtivas é parte deste processo, mas o mais pertinente é explicitar o que se segue deles. Uma contribuição substancial da Academia é aquela em que os pesquisadores fazem “interface com a realidade”, como diria Costa (PUCRS), de modo mais proeminente possível, explicitando o valor dos dados teóricos e da importância deles para o desenvolvimento do pensamento de uma época. Sem isso, a Academia, a meu ver, tem um valor muito limitado.
Identificar, selecionar, processar, integrar e gerar informação ainda são processos tidos como universais. É importante termos isso em mente.
"Tudo é possível, mas cada tecnologia que usamos para fins intelectuais tem certos efeitos e reflete um conjunto particular de premissas sobre como devemos pensar."
"Bem, se nossos cérebros individuais estão mudando e mudando a ênfase de pensamento, isso terá efeitos culturais e sociais."
"...essa é a trilha pela qual mudanças individuais se tornam mudanças sociais e culturais. Seu modo de pensar se torna central para a sociedade."
"Está óbvio nesta altura que nossas vidas mentais refletem uma combinação de herança genética com o modo como fomos criados para usar nossas mentes."
Nicholas Carr
"But the existence of neural plasticity does not mean the brain is a blob of clay pounded into shape by experience."
"Genuine multitasking, too, has been exposed as a myth, not just by laboratory studies but by the familiar sight of an S.U.V. undulating between lanes as the driver cuts deals on his cellphone."
"Media critics write as if the brain takes on the qualities of whatever it consumes, the informational equivalent of 'you are what you eat.'"
"It’s not as if habits of deep reflection, thorough research and rigorous reasoning ever came naturally to people. They must be acquired in special institutions, which we call universities, and maintained with constant upkeep, which we call analysis, criticism and debate."
"Knowledge is increasing exponentially; human brainpower and waking hours are not."
Steven Pinker
Referências:
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