DEBATE SOBRE A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM




Tanto para Pinker quanto para Chomsky três questões teóricas perpassam o debate sobre a evolução da linguagem:

1 distinção entre compartilhado versus exclusivo – muitos pesquisadores concordam que os sistemas de comunicação entre animais e humanos diferem qualitativamente, principalmente no que se refere à recursividade;

2 a evolução da linguagem como gradual versus saltacional – a descontinuidade qualitativa entre as espécies existentes poderia ter surgido através de saltos na evolução ou se desenvolvido gradualmente;

3 continuidade versus exaptação – se a linguagem humana se desenvolveu por extensão gradual de sistema de comunicação preexistente ou se aspectos importantes de linguagem foram exaptados a partir de uma função prévia adaptativa (raciocínio espacial ou numérico, esquema social maquiavélico, construção de ferramentas).

Também concordam que é necessária a divisão, presente já em Darwin, para fins teóricos, das noções sobre língua. Numa visão informal, a língua é entendida como sistema comunicativo específico culturalmente. Para a linguística, língua é vista como componente interno da mente-cérebro (língua interna). Essa separação segue o proposto por Darwin, como foi apontado. Entretanto por ser ainda uma abordagem muito abrangente, Chomsky, Ficth e Hauser separam a linguagem em lato senso (FLB) e linguagem em strictu senso (FLN). Separação aprovada por Pinker e Jackendoff. A diferença quanto a essa separação se concentra em o que compõe FLN.

Para CHOMSKY, FITCH E HAUSER, FLB inclui FLN com no mínimo outros dois sistemas internos do organismo: sensório-motor e conceitual-intencional. Quanto a esse aspecto, eles assumem a existência de alguma capacidade biológica de humanos que os permite dominar qualquer linguagem humana sem instrução explícita. Essa capacidade não incluiria outros sistemas de organismo interno que são necessários, mas não suficientes para a linguagem (memória, respiração, digestão, circulação, etc). Já FLN é tratada como um sistema abstrato de processamento linguístico independentemente de outros sistemas com o qual interage e faz interfaces. O ponto crucial nesse sentido é a recursividade. CHOMSKY, FITCH E HAUSER assumem que outros sistemas, como, por exemplo, o semântico, não são específicos a FLN.

PINKER E JACKENDOFF, no entanto, assumem a visão de que a faculdade de linguagem humana possui múltiplos componentes, como proposto por Darwin. Não consideram possível que uma linguagem exista apenas em termos de recursividade, mas que inclui quatro limitações de desenho adicional:
First, its recursive products are temporally sequenced, unlike those of social cognition or visual decomposition. Second, syntactic trees have a characteristic structure, in which each constituent contains a distinguished member, the head, which determines the category and semantic referent of the constituent, and around which the other elements are grouped as arguments and modifiers (…). Third, syntax is not just a recursive representational system externalized. It maps multi-directionally (in production and comprehension) among systems: recursive semantic representations, recursive communicative intentions, and hierarchial phonological signals. Fourth, the details of the recursive structures are largely arbitrary and learned, conforming to the words and constructions of the linguistic community, rather than being dictated by immediate real-world constraints such as how a scene is put together or which sequence of actions is physically capable of effecting a goal.
A discussão sobre se a evolução da linguagem se deu através de adaptação (Jackendof e Pinker) ou por exaptação (CHOMSKY, FITCH E HAUSER) foi desenvolvida por esses autores sobre em estudo comparativo com outras espécies no que diz respeito aos sistemas sensório-motor e conceitual-intencional, visto que para Chomsky apenas FNL seria exclusiva a faculdade de linguagem humana.

Comentários

  1. Respondendo a uma pergunta feita por outros meios:
    A capacidade, assumida pelos autores abordados, que permite ao homem aprender qualquer linguagem humana sem instrução não inclui sistemas como memória, respiração, digestão, circulação, etc. Eles possuem outras funções que por adaptação ou exaptação passaram a desempenhar papel importante na realização oral da linguagem sem deixar de desempenhar suas funções primeiras. Resumindo: esses sistemas não estão incluídos na capacidade de aprender uma linguagem, mas são necessárias tanto para a aprendizagem, como é o caso da memória, como para a sua realização.

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