DARWIN, SEXO E A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM

Charles Darwin

Darwin em A Evolução do Homem e a Seleção Sexual diz que é possível afirmar que as capacidades mentais humanas se desenvolveram gradativamente, pois essas não são totalmente diferentes das de outros seres, ele também defende a mesma posição em relação à linguagem, como logo será exposto. Posto que o homem possui os mesmos sentidos que outros seres, é possível supor que as intuições fundamentais (tais como auto conservação, amor sexual, afeição pela mãe e pelos recém nascidos) também o são (cf. Darwin, 1982, p. 85). Porém o instinto no homem se apresenta escasso e relativamente simples se comparado com o de outros seres. A linguagem não é considerada um verdadeiro instinto, posto que precisa ser aprendida, contudo o homem (cf. Darwin, 1982, p. 107) tem uma tendência instintiva para falar, assim como para aprender.

Segundo Ficth (2009), Darwin
clearly adopted a "multicomponent" view of language, one that recognized the necessity of several distinct mechanisms to produce the complex product that we now call language, rather than privileging any one factor as the single "key" to Language in a monolithic sense. Among these several components, he presciently recognized the necessity for complex vocal learning, and recognized that this biological capacity, while unusual among mammals, is shared with many birds”.
Antes de falar sobre a linguagem, Darwin afirma que outros animais manifestam emoções de modo semelhante ao homem, tais como prazer e dor, felicidade e tristeza. Eles se manifestam em todos os seres mais ou menos da mesma forma. O terror age neles da mesma forma que em nós, fazendo tremer os músculos, palpitar o coração, os esfínteres (SIC) se relaxam e os cabelos se eriçam (Darwin, 1982, p. 86). Ele ainda afirma que não só as emoções, também as capacidades intelectivas em alguns níveis são compartilhados, além de serem a base para o desenvolvimento de faculdades mentais superiores.

Para esse autor todos os animais expressam curiosidade e admiração. Para exemplificação, Darwin colocou uma serpente dentro de um saco fechado na gaiola dos macacos. Alguns destes, curiosos, abriram o embrulho e espiaram o seu conteúdo (p.91). Algumas faculdades mentais, sabidas como necessárias ao aprendizado de uma linguagem, tais como imitação, atenção, memória são compartilhadas com outros animais.

Dentre todas as faculdades mentais, a que se encontra em nível mais elevado é a razão. Ainda que animais não sejam capazes de raciocínios complexos como os homens, Darwin traz alguns exemplos em que é possível presumir que o animal realizou algum tipo de raciocínio, como, por exemplo, o caso relatado por Hutchinson (apud Darwin, 1982, p. 98) em que cães caçadores, ao se deparar com dois patos abatidos sem, no entanto, poder levar ambos ao dono, deliberadamente mataram um. Assim garantiu que enquanto levava um o outro não fugiria.

Da mesma maneira em que procurou mostrar características compartilhadas entre humanos e outros seres vivos, Darwin argumentou que também a linguagem tem características compartilhadas, apesar da alegada exclusividade humana sobre ela. Whateley (apud Darwin, 1982, p. 105) afirmou que o homem não é o único animal que pode fazer uso da linguagem para exprimir aquilo que se passa na sua mente, e que pode compreender mais ou menos aquilo que é de tal modo expresso por outrem.

Cebus azarae é capaz de imitir seis sons distintos provocando, nos demais símios de mesma espécie, reação semelhante. Percebemos no cão domesticado pelo menos três tipos de latidos: o de alegria, o de raiva e o de travessura. Uma ave doméstica é capaz de emitir pelo menos uma dúzia de sons significativos. Além desses exemplos apresentados por Darwin, não é difícil se pensar em outros. Entretanto, quanto a este ponto, Pinker faz uma ressalva, o que se pode considerar linguagem vai depender do conceito de linguagem empregado.
De acordo com Darwin
“o uso habitual da linguagem articulada é contudo peculiar ao homem; mas, em comum com outros seres inferiores, ele usa gritos inarticulados para exprimir o seu sentimento ajudado por gestos e movimentos dos músculos da face (1982, p. 106)”.
A compreensão, para este cientista, de linguagem articulada não é exclusiva aos homens visto que cães são capazes de compreender palavras e frases, nem a capacidade de articulação, pois esta pode ser percebida em alguns papagaios. Apesar de reconhecer as peculiaridades do trato vocal humano, o que mais diferenciaa homens de outros animais, no que concerne a linguagem, é a capacidade, dependente das faculdades mentais, muito maior de associar sons e ideias. Desta forma, Darwin, localiza a linguagem no cérebro.
A analogia mais próxima à linguagem que pode ser realizada é em relação aos sons emitidos pelos pássaros.
“Todos os indivíduos da mesma espécie emitem gritos instintivos que exprimem as suas emoções; e todas as espécies que cantam exercitam a sua faculdade instintivamente, mas hoje o canto e também as notas emitidas se aprendem dos genitores ou de quem os substituiu (Darwin, 1982, p. 107)”.
Darwin concorda com outros pesquisadores (Hensleigh Wedgwood, F. Farrar, Schleicher e Max Müller) sobre a linguagem dever sua origem à imitação e modificação dos vários sons naturais, das vozes de outros animais e dos gritos instintivos do homem. Contudo Fitch (2009) afirma que isso não explica o surgimento de palavras não relacionadas com tais coisas, como, por exemplo, preposições, pronomes.

Para Darwin a linguagem foi usada em primeiro lugar para cantar, com tendência ao cortejo. Esses sons poderiam explicar a origem de sons articulados dos quais teriam se originado a linguagem. Conforme aumentava o uso da voz, os órgãos vocais foram se reforçando e aperfeiçoando através do princípio hereditário, o que pode ter agido sobre a faculdade de linguagem. O que por sua vez, agiu sobre a própria mente proporcionando condições para elaboração de cadeias complexas de pensamento.

As principais contribuições para o estudo da evolução da linguagem foram: 1 reconhecimento da importante distinção entre faculdade da linguagem e línguas em particular; 2 argumentação para que a singularidade da linguagem humana deve ser buscada no cérebro, visto que a capacidade articulatória, em maior ou menor grau, é compartilhada com outros seres; 3 reconhecimento da importância para a evolução da linguagem de pássaros canoros, por ser, como já dito, análoga ao dos homens.

Como pode-se ver, mais uma prova do maior motivador do ser humano: sexo!

REFERÊNCIAS INDICADAS


The nature of the language faculty and its implications for evolution of language. Disponível em: http://pinker.wjh.harvard.edu/articles/papers/2005_09_Jackendoff_Pinker.pdf. Acesso em 07 jul. 2010.

The evolution of the language faculty: Clarifications and implications. Disponível em: http://www.wjh.harvard.edu/~mnkylab/publications/languagespeech/FitchHauserChomksyLangFacCog.pdf. Acesso em: 07 jul. 2010.

Language Acquisition. Disponível em: http://users.ecs.soton.ac.uk/harnad/Papers/Py104/pinker.langacq.html. Acesso em 07 jul. 2010.

Language as an Adaptation to the Cognitive Niche. Disponível em: http://pinker.wjh.harvard.edu/articles/papers/Language_Evolution.pdf. Acesso em: 07 jul. 2010.

The evolution of the language faculty: Clarifications and implications. Disponível em: http://www.wjh.harvard.edu/~mnkylab/publications/languagespeech/FitchHauserChomksyLangFacCog.pdf. Acesso em 07 jul. 2010.

REFERÊNCIAS

 DARWIN, Charles. A Origem do Homem e a Seleção Sexual. São Paulo: HEMUS, 1982, p. 83-119.

FICHT, W, Tecumseh. Disponível em: http://languagelog.ldc.upenn.edu/nll/?p=1136. Acesso em 03 jul. 2010.

PINKER, Steven; JACKENDOFF, Ray. The faculty of language: what’s special about it? Disponível em: http://pinker.wjh.harvard.edu/articles/papers/2005_03_Pinker_Jackendoff.pdf. Acesso em: 03 jul. 2010.

Comentários

  1. “Porém o instinto no homem se apresenta escasso e relativamente simples se comparado com o de outros seres.”
    É realmente interessante fazer essas comparações. Lembremos de casos como o da gorila que, com seu ‘instinto maternal’, protegeu o bebê que havia caído na jaula; o macaco que cuidou de Fernando (11 anos) perdido em na selva da ilha de Príncipe(http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2010/06/menino-sobrevive-na-selva-por-oito-meses-com-ajuda-de-macaco.html); os cães que salvaram os donos do perigo, e até mesmo cuidam fielmente dos amigos moradores de rua, e tantos outros exemplos 'intrigantes'. A relação do Homem com o restante da natureza também parece “instintivamente rudimentar”, ou se perdeu. Os instintos do Homem, à primeira vista, foram sendo tolhidos, se observados em comparação com os próprios grupos aborígenes.

    “A linguagem não é considerada um verdadeiro instinto, posto que precisa ser aprendida, contudo o homem (cf. Darwin, 1982, p. 107) tem uma tendência instintiva para falar, assim como para aprender.”
    É claro que trata-se de uma perspectiva pré-chomskiana. Mesmo com os avanços teóricos, é irônico pensarmos que, enquanto os ‘animas menos complexos’ (insetos, classes de mamíferos, etc.) teriam desenvolvido a 'comunicação' e não a 'linguagem', os Homens teriam 'a propriedade da linguagem' (no sentido de Chomsky – 'discreta infinitude') e só posteriormente vieram a desenvolver a 'comunicação'. Assim, estes teriam estruturado a organização social comunicativa “já via comunicação” – um processo acidental e longo (!) (Chomsky, Pinker, etc.) – diferentemente dos outros animais, onde a comunicação seria um processo natural e necessário à perpetuação das espécies. Segundo Costa (2004), (i) seria estranho supor que o Homem viesse dotado de uma capacidade linguística sem, porém, uma capacidade para seu compartilhamento e (ii) seria estranho haver formas de comunicação naturais aos animais e os seres humanos ficarem alijados de um mecanismo cognitivo para tal fim, ficando a cargo da contingência todo o sofisticado aparato comunicativo característico da estrutura social da linguagem.

    “Para Darwin a linguagem foi usada em primeiro lugar para cantar, com tendência ao cortejo.” Temos que convir que é uma visão, em penúltima instância (!), romântica! Dispomos de pesquisas de que a rima, ou até mesmo a música, é encontrada nas mais diversas civilizações do planeta. Isso é algo extremamente interessante, pois temos os ritos sagrados, nas diferentes épocas, todos com a presença de rima. Ou seja, é algo ao mesmo tempo básico e ‘culturalmente elevado’, mesmo que, em termos de articulação, seja o mais simples em relação ao trato oral.
    ...

    ResponderExcluir
  2. É bem interessante a discussão entre Chomsky e Pinker sobre a evolução da linguagem. Nos próximos posts colocarei um pouco sobre ela para mostrar outras perpectivas: evolução por adaptação ou por exaptação. Sobre a visão de Darwin quanto ser o cortejo o motivador, Fitch contraargumenta afirmando que foi a necessidade de comunicação entre mulheres e crianças (apesar de a piada me vir a ponta da língua vou deixar passar).
    O curioso sobre o único capítulo que Darwin dedicou a linguagem é ele não ser lembrado por outros pesquisadores quando discutem sobre origem da linguagem. Claro que foram descobertas muitas coisas e com comprovação, e não especulação instintiva resultante de observação, como muitos dos exemplos de Darwin.

    ResponderExcluir
  3. Tipo, o evolucionismo defende a teoria que o mundo foi criado por uma explosão,mas essa explosão veio mesmo de átomos de Hidrogênio? Não é comprovado que existe H no espaço.Dúvidas, dúvidas d´´uvidas. rs
    Abraços e Ótimo final de semana.

    ResponderExcluir
  4. Humor Negro sem Censura,

    Dúvidas > Big Bang > abiogênese > evolucionismo > dúvidas!

    1 - “O hidrogênio está presente em 93% dos átomos do cosmo. Esse elemento químico tomou conta do Universo por causa da sua simplicidade: em um átomo de hidrogênio, há um único próton no núcleo, que, por sua vez, é rodeado por apenas um elétron. "Esses núcleos foram os primeiros a aparecer, menos de um milésimo de segundo após o Big Bang (a grande explosão que teria dado origem ao Universo)", diz o astrônomo Antonio Mário Magalhães, da USP.” (http://mundoestranho.abril.com.br/ciencia/pergunta_286151.shtml)


    2.1 - “O espaço interestelar contém grandes quantidades de hidrogênio. Turbulências nessas massas gasosas produzem verdadeiros bolsões de gases e alta densidade [...]. Nesse estado, algo muito interessante começa a acontecer: produz-se um equilíbrio entre a tendência à coesão pela gravidade e a propensão à irradiação, fruto de reações termonucleares no interior da estrela em formação.” (MATURANA; VARELA. A Árvore do Conhecimento, p. 42)

    2.2 - “Nosso Sol está num ponto mais ou menos intermediário de sua seqüência principal, e espera-se que continue irradiando durante pelo menos 3 bilhões de anos antes de se consumir. Pois bem: em muitos casos, durante essa transformação, uma estrela agrupa ao seu redor um halo de matéria que capta do espaço interestelar. Esse halo gira em torno dela, mas depende energicamente do curso de transformações da estrela. A Terra e outros planetas do nosso sistema planetário são desse tipo e devem ter sido captados como remanescentes da explosão de uma supernova, a julgar por sua riqueza de átomos muito pesados.” (idem, p. 43-44)

    2.3 - “Quando, nos mares da Terra primitiva, as transformações moleculares chegaram a esse ponto, chegou-se também à situação na qual era possível a formação de sistemas de reações moleculares de um tipo peculiar [...] Essas redes de interações moleculares, que produzem a si mesmas e especificam seus próprios limites são, como veremos adiante, seres vivos.” (idem, p. 46)

    2.4 - Seleção Natural > Conservação da Adaptação > Mudanças Reprodutivas > Evolução das Espécies

    3 - “Antes de a civilização atual habitar este mundo, o planeta era chamado Atlântida e havia passado por um processo de reestruturação. Tal processo ocorreu para purificar o planeta das concentrações de gases venenosos que o inundaram depois da eclosão de uma grande hecatombe, que transformou completamente a face do planeta. Isso foi antes do período que vocês tratam como Era dos Dinossauros, quando havia uma civilização muito avançada em Atlântida.” (SOARES, O Padre Delator, p. 169)

    4 - “Ele colocou um grande cometa em rota de passagem próxima ao planeta. Como eles pensavam que tudo que vinha do céu era obra nossa, dispararam suas armas contra o cometa, alterando a sua trajetória e fazendo com que ele se chocasse contra um outro corpo celeste próximo. Como resultado da colisão, a rota do cometa foi alterada em direção ao planeta Atlântida. O referido choque de proporção colossal é considerado pela ciência humana atual como o Big Bang, a explosão que vocês teorizam como sendo a que deu origem ao universo conhecido pelo homem.” (idem, p. 170)

    Tuas “dúvidas” recaem de 1 a 2.4. Para incrementar o prato de dúvidas, te apresento 3 e 4! Abraço!!

    ResponderExcluir
  5. Foaaaadaaaaa-seeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! rsrsrs

    ResponderExcluir

Postar um comentário