IX
Acordou com um suspiro. Parecia que havia rezado durante toda a noite. Lembrou-se daqueles versos rimados, tão sonoros. O corpo estava pesado, a mente levitava. Lutou contra a dureza de seus músculos e curvou o corpo para frente, mirou o vidro, era um dia de sol. Saudou o sol. Foi até a janela, o vento chegava manso, saudou o vento. O corpo, na sua solidez macia, já estava mais obediente aos comandos da mente, agradeceu por sentir o corpo. Com os joelhos no chão, envergou a cabeça e pôs-se a observar as linhas dos pés, eram curvas de harmonia estranha. O estranho era seu. Deteve-se na análise daqueles seus traços, coisas supostamente conhecidas. Por certo deveria dominar sua anatomia, tão sua por tão longo tempo, parecia que realmente sentia o corpo racionalmente. O fato é que aqueles pés se mostravam por demais estranhos, a ponto de, se os mirasse mais afastado de seu tronco, julgá-los pertencentes a outro corpo. Alguém chegou à janela, a pessoa estava sorridente. “Por que você está aí parado por tanto tempo, olhando os pés?”. “Eu não estou parado, estava vendo o formato e o movimento de meu corpo”. “Mas você não se moveu em momento algum desde que cheguei.” “Eu vi meus movimentos”. “Estava o contemplando daqui e tenho certeza de que você estava paralisado”. “Você não viu, mas movimentei meu corpo como nunca antes”.

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