IV
Como mudara. Mas mudança profunda, severa. Estava antigo. Não tinha origem, nem idade. As marcas da experiência natural, das diferentes existências agora se manifestavam. Ele olhava para o mundo com um olhar lânguido, às vezes turvo e viciado. Prendia-se às pequenezas, via o que a experiência lhe havia apresentado, não queria desabotoar a visão. Tornara-se humanamente simples. Ele mesmo percebia sua situação; não entendera as causas. Observava o mundo... Um objeto inflável, apenas pairava, jamais tocava o chão. Dessa maneira, manifestara suas ações voluntárias. Seus desejos voluntários. A parte autêntica de si.
Uma pessoa passou por ali, detendo-se nele, os corpos haviam se chocado. Essa pessoa não disse nada, embora aparentasse mover os lábios. Era alguém que estava acompanhado. Sua companheira nem notou seu pequeno atraso na caminhada. A pessoa seguiria seu caminho, junto à outra, mas voltou. A pessoa franziu a testa e fixou o olhar. Depois, ela sorriu forte, balançando a cabeça e, então, sem relutância, transpareceu sua pena. Sim, ela se lembrou do momento e da situação, sim, os fatos. Eles já foram ligados. Um dia, dividiram tempo e espaço, nada profundo. Intenso era o que se passava agora. Nunca foram tão reais, nunca um notara o outro tanto. Seus olhos eram analisados, seus movimentos seguidos. A pessoa estava vendo-o. Sua companheira o chamou. Ele não costumava demorar e, caso isso se sustentasse, ela o buscaria. A mudança repentina se acanhou junto à pessoa que estava diante do Clandestino. Ela tratou-o como o passado, lembrou e esqueceu novamente, cada vez mais. Ele, no outro instante, já era um traço de espaço distante. Não tinha culpa, ele pensou. Pois não havia reflexão e não haveria.
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