II
O Clandestino, com algum esforço, ergueu-se. Várias vozes ecoavam em sua mente, nada significavam, antes sugeriam imagens acústicas. Ele reagiu, embora os sons e as imagens se unissem em um pensamento fugidio. A criança ainda estava ali. Seu sorriso o aliviava em alguma perspectiva. Aquelas pequenas proporções contrastavam com as dimensões do mundo em que o Clandestino podia estar contido. Então, preferiu desviar o olhar, rever a paisagem que o cercava – sim, eu já não era mais. Nem havia notado. – A criança, por certo, era a essência de toda a atenção, pois ela era a paisagem, era o Clandestino, era-nos. E, assim, estávamos contemplados pela visão de algo a nós externo, mas que a nós se conectava. As palavras começaram a configurar sentido ao Clandestino, à medida que a sensação de anestesia trazia indícios de retrocesso. Ele se convencera de que aquilo tudo já era ele mesmo, não poderia separar de si o que já se incorporara. Quando o dominava um sentimento igualmente tenso, no patamar do que se conhece sob as vestes de felicidade e tristeza, ele não sentia e não pensava, negava tudo. Somente almejava o momento superficialmente pleno que o tornava tão igual a qualquer outro ser em inércia num mar – leve. Era uma inércia interior, uma intraforça, a própria condição. Consciente, enfim.

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