Diante de tamanho experencialismo em termos de falta de diálogo entre os setores do poder e a sociedade brasileira, parece claro que qualquer tentativa de trabalho conjunto está fadada ao fracasso. Mas nem sempre foi assim. Um exemplo que não vejo ser amplamente comentado foi o processo de erradicação do Bócio Endêmico no Brasil.
O bócio é caracterizado pelo aumento de volume da glândula tireóidea (em virtude da ineficiência da secreção de seus hormônios), como consequência da falta de suplemento de iodo no organismo. O bócio (papo) endêmico (localizado em determinadas regiões) teve seus primeiros registros no Brasil feitos pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1852/3) ainda no período colonial.
A endemia apresentava-se em diferentes regiões que possuíam contato limitado com alimentos ricos em iodo (como frutos do mar). Meu pai e minha avó lembram-se de ver pessoas de diferentes faixas etárias apresentando papo de tamanhos variados – mesmo este sendo comumente registrado em mulheres entre 40 e 50 anos.
Apenas em 1948, foi lançado o Projeto nº 957 (pelo Deputado Café Filho), que tornaria obrigatória a iodação do sal de cozinha destinado ao consumo humano nas áreas bocígenas do país, que, somente em 1953, transformou-se em lei (lei nº 1944)! Para a delimitação das áreas com a presença de Bócio, a Divisão de Organização Sanitária realizou um mapeamento, resultando o Primeiro Inquérito sobre o Bócio Endêmico no Brasil.
Em 1956, Juscelino Kubitschek (nosso então presidente) assinou o decreto (nº 39.814) que tornava obrigatória a iodação do sal de cozinha nos territórios mapeados e, posteriormente, em todo o território nacional. Como esperado (infelizmente), as empresas produtoras de sal realizavam a iodação ou parcialmente, ou simplesmente não a realizavam! Os estudos indicavam taxas variadas (não atingindo 50%) de adição de iodato de potássio nas diferentes localidades. Em 20 anos, registrou-se queda de 6,5% na ocorrência de Bócio. Em 1978, criou-se o Programa de Combate ao Bócio Endêmico (constando efetivo funcionamento só a partir de 1982!).
Em meados da década de 80, pasmem, foi necessária a DISTRIBUIÇÃO GRATUITA às indústrias salineiras de iodato de potássio; claro que, em contrapartida, elas se responsabilizavam pela correta iodação no sal moído e refinado (nada mais justo!).
Posteriormente, portarias e outras instâncias regulamentaram os níveis de iodação do sal conforme os estudos na área e recomendações internacionais.
Se outrora o Brasil constava nas listas dos países carentes de iodo, desde 2000 o Brasil é registrado como um país com consumo excessivo desse micromineral nutriente!
Como se observa, não é impossível um trabalho conjunto entre Estado e setores da economia, ainda que seja necessário o uso de forte persuasão!
Fonte principal: http://saude.hsw.uol.com.br/tireoide4.htm
Comentários
Postar um comentário