Me disseram para ir e eu fui. Me deram a chave para voltar, mas é tarde. Estou quase no fim.
Sempre que me sento à janela tenho vontade de rir, principalmente quando vejo a insignificância da vida diante da morte. Hoje não será diferente, só que o meu riso será ainda mais forte. Acabo de vê-lo passar. Pontual e sistemático, não se enquadram a esta figura. Foi difícil localizar um padrão em sua rotina, nem mesmo enquanto estivemos juntos. Num momento era como se não houvesse ninguém no mundo além de mim, no outro quem não existia era eu. Sempre que tentava me desligar dele, ele retornava terno, apaixonado e abrasado. Assim que eu pensava que estava tudo bem, percebia seu olhar para minhas amigas, colegas, vizinhas, praticamente tudo que andasse, mesmo estando eu ao seu lado. Pensa que eu aceitava quieta? Não. Depois, nos brigávamos, mas a culpa era minha. Eu é que me distanciava tanto que ele se sentia isolado. Era minha culpa se ele ia embora sem avisar, se passava meses sem telefonar, afinal quem suporta alguém que vive te criticando. Não, a culpa não era minha. Ele é que era lascivo demais para se contentar. Sempre queria mais e mais, não importava o quanto de mim eu doasse. No fim já nem sabia quem eu era. Talvez eu nunca tenha sido. Ele tinha razão eu era fraca demais. Nunca o mereci. Não, eu não posso entrar no jogo dele, não agora. Estou quase no fim.
Ah, a lua será a nossa única testemunha. Chegaremos ao beco e não haverá saída. Aqui nenhuma liminar me manterá afastada. Só quero ficar perto. Ser finalmente. Não, eu era antes de te conhecer, mas tu me usou para se fortalecer e agora me repele. Por que todos me olham? Será que descobriram o nosso encontro? Será que ele descobriu e eram policiais esperando o momento para me prender? Não pode ser. Fiz tudo direitinho, como ele sempre quis. Não pode ser. Ele está me enlouquecendo. Por que não me quer mais? O que eu fiz para não me deixar em paz? Por que me liga e deixa que o silêncio fale por nós? Estou quase no fim. Já posso vê-lo novamente. Logo ali na frente dobrando para o beco. Ele estará vazio como sempre. Ele ou o beco? Os dois. Mas eu também estou vazia. E quero rir muito... Não, não posso. Não agora, estou quase no fim.
Por que essa coisa é tão fria se meu coração arde tanto? Fiz direitinho como ele me ensinou. Agora tenho que criar coragem. Basta apertar o gatilho como ele tantas vezes fez com meus punhos. Estou quase no fim e vou ser livre. Estou quase no fim.
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ResponderExcluirsó pra dizer que sempre passo por aqui...
ResponderExcluirbeijos.
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Kamila.