Há informação, mas não há comunicação
Dois dados ilustram a intencionalidade da afirmativa acima. Talvez a palavra comunicação não seja a ideal, nem mesmo a primeira que me veio à mente, mas deixarei à consciência de cada leitor/internauta/enfim.
1 – O Tsunami ocorrido no oceano Índico, em 2004, havia sido detectado por cientistas norte-americanos 8 horas antes de a destruição iniciar. Nada foi feito para a retirada da população das regiões afetadas.
2 – O terremoto ocorrido no Haiti, em janeiro, havia sido alertado por geólogos em um congresso internacional de geologia. Cogitou-se mudar a capital do país, Porto Príncipe, mas, novamente, nada foi feito.
Essas duas situações objetivas foram discutidas no início do Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe deste ano, que acontece na PUCRS.
Então, ao discutirmos, sem pretensões teóricas, a parte social da comunicação, nos deparamos com os aspectos humano e político. Que responsabilidade têm aqueles que detêm a informação e não a utilizam, de modo que prejudicam, por exemplo, 285.000 vidas?
Esse é apenas o início da pequena conversa sobre linguagem proposta por este espaço.
No Fórum Social Mundial deste ano, a semântica, na intereface com a morfologia, esteve em pauta: qual é o significado da palavra crise? A ideia de crise referida pelos diversos meios não deveria ser plural ou o vocábulo pluralizado (Port. crise, pl. crises, AmE crisis, pl. crises)? A palavra crise abrange o contexto político-econômico em que vivemos?
Essas foram algumas perguntas feitas por palestrantes do FSM 2010.
Essas foram algumas perguntas feitas por palestrantes do FSM 2010.
O exemplo de questionamento proposto, na ocasião, por economistas e intelectuais (!), demonstra algumas das dimensões da linguagem, em sua utilização/manipulação pelos usuários dentro de uma realidade que ultrapassa o próprio idioma.
Já no Mutirão de Comunicação, houve a utilização de crise planetária e, dentro desta, estariam contidas a crise ecológica, a crise econômica, etc.
A própria diferença semântica e/ou conceitual dos lexemas uso e consumo esteve em pauta em uma das discussões: até que ponto utilizamos/consumimos os meios de comunicação?
Retornando aos plurais e usos midiáticos: falamos em uma classe trabalhadora ou nos referimos a classes trabalhadoras? Cada expressão carrega sentidos próprios ou são sinônimas nos meios de comunicação? Parece-me que ocorreu uma neutralização das variantes de sentido pela grande mídia e por discursos políticos.
Sobre as expressões do momento: pensar globalmente e agir localmente; pensar planetariamente (!); política de Estado e não política de Governo (nova?)...
Qual é a dimensão da linguagem em meio a tais exemplos?
A falha na estrutura do ônibus espacial Columbia estava registrada em um relatório, mas a linguagem que usaram era tão rebuscada que não recebeu atenção. Consequência:7 tripulantes mortos. Onde estava a responsabilidade para com a vida dessas pessoas?
ResponderExcluirExatamente...de quem é a responsabilidade por tais ações e omissões..será que é algo tão sem importância?
ResponderExcluirFiquei confusa só com o 'mudar a capital do Haiti", quis dizer retirar as pessoas ou mudar a capital em si?
ResponderExcluirBom, eu acho que às vezes as pessoas e a política criam uma burocracia invisível. Não acho que seja má vontade, mas falta de reação. A política provoca vários problemas de comunicação. Em embos os exemplos dados, certamente a não divulgação da informação ou a não-ação sobre ela deve ter estado ligada a algum fator político. Eles tomam tanto cuidado para agir, que não fazem nada.
Mas acho que os problemas de comunicação em si vão muito além. Nunca tivemos tantos facilitadores e ainda assim o ser humano parece viver em erros de comunicação. Acho que uma porcentagem considerável dos dilemas na vida cotidiana vem da falha na comunicação, muitas vezes consciente, às vezes não. Acho que talvez tenhamos regredido... é uma sociedade cheia de liberdades e a própria liberdade cria restrições... não se pode falar isso pq não é correto, não é educado, vai assustar or desagradar, não está na moda... omissões que geram problemas em todas as esferas da sociedade, desde as relações familiares até as reuniões dos nossos 'grandes' líderes heheh... eu sei que eu fugi do assunto mas acho que Comunicação rende pano pra manga hehehe espero não ter falado besteira.
Concordo plenamente com a essência da tua argumentação, Martha..mesmo acreditando eu que há má vontade, sim, por parte de muitas pessoas (não parece haver outra explicação). Partilho da tua percepção de que a apatia já se instalou em nossas relações cotidianas (trocas comunicativas!). Quanto à mudança da capital do Haiti, como revela uma matéria pós-terremoto: http://noticias.r7.com/internacional/noticias/capital-do-haiti-pode-ser-reconstruida-em-area-mais-segura-20100125.html, haveria a possibilidade de transferência da população para outro lugar, transferindo também a estrutura político-social, a "capital em si". Eu gostaria de saber mais sobre o assunto. Ah, concordo também que "os problemas de comunicação em si vão muito além", justamente porque a "comunicação em si" me soa como apenas uma faceta da questão da própria comunicação..
ResponderExcluirMeu cérebro está de férias! :D
ResponderExcluirMas posso dizer o seguinte:
1o) Depois de estudar Comunicação por 4 anos, afirmo: não somos nós quem consumimos/usamos os meios de comunicação, são eles quem nos consomem e usam.
2o) Os políticos se preocupam tanto em agir com diplomacia, que deixam de fazer muitas coisas importantes. Que tal eles agirem com HUMANIDADE?
Go get them, girls!!!
;)
Bem, como não poderia deixar de ser, vou começar meu comentário exemplificando de forma simples a comunicação na informática: quando dois computadores querem se comunicar, deve haver entre eles um protocolo que diga de que forma isso ocorrerá. Digamos, que se fosse entre pessoas, falar a mesma língua. Depois que isso é acertado, quem vai enviar a mensagem pergunta se quem vai receber está "escutando". Por motivos técnicos as mensagens são quebradas e enviadas em pedaços iguais, mas isso é irrelevante aqui. Depois da confirmação de que o receptor irá escutar, começa o envio da informação, pedaço por pedaço, onde é confirmado pelos dois entes comunicantes de que cada pedaço foi entregue e entendido, assim se tem a garantia de que a mensagem é entregue e completamente "entendida". Onde quero chegar?
ResponderExcluirClaro que a comunicação entre pessoas não é assim, ela depende dos meios de comuniação (ouvidos, voz, gestos, etc.), e do entendimento de cada um. Como diz o ditado: "Cada cabeça é uma sentença", portanto entendo que haverá sempre falhas na comunicação humana, por uma questão física, intelectual, moral ou outra que irá influenciar na qualidade da mensagem. Muitas vezes nos deparamos com situações onde não conseguimos mostrar o que sentimos ou pensamos, e temos dificuldades em entender os outros. Portanto, acredito que a maioria dos acidente e desastres aconteçam, sim, por falta de uma boa comunicação, mas não quer dizer que a pessoa teve má vontade naquele momento. O que podemos fazer é melhorar a forma com que nos comunicamos, e aprender com os nossos erros.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcredito que, infelizmente, tais erros acontecem por ma vontade das pessoas. Realmente, a comunicacao pode esclarecer melhor a importancia e gravidade dos problemas e suas implicacoes, mas em todos os casos, sendo bem comunicado ou nao, ha a transmissao da informacao que se tem um problema. Portanto, se ha um problema, cabe aos responsaveis, geralmente politicos e governantes, atuarem numa solucao. O fato de nao reagir de nenhuma maneira ao alerta de terremoto, a possiveis problemas tecnicos numa aeronave de milhoes de dolares, ou ate mesmo no caso do tsunami gera uma unica explicacao logica: irresponsabilidade. Sendo assim, acredito que nossos governantes atuais nao detem do direito de nos representar se continuarem com essas atitudes.
ResponderExcluirÉ bastante dificil comentar, de forma a acrescentar algo ao debate, quando todos os comentários aqui postados são realmente de grande valor. Acho que não estou no mesmo nível dos demais, mas espero conseguir somar algumas novas idéia, àquelas já apresentadas neste espaço.
ResponderExcluirVamos analisar primeiro o caso do tsunami ocorrido no oceano indico, em 2004. Os cientistas norte-americanos detectaram o tsunami 8h antes dele atingir o continente asiático. Como pode ser visto nesta animação (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/47/2004_Indonesia_Tsunami_Complete.gif).
Nela, também pode ser observado que o tsunami atingiu ainda o continente africano, com menor intensidade, mas com força suficiente para fazer algumas vitimas.
Desse modo, logo após detectarem o fenômeno, os cientistas tinham q correr, para avisarem os chefes de estado dos países atingidos.
Depois disso, cada chefe deveria avisar os chefes locais, q por sua vez, deveriam acionar as tropas policiais, os bombeiros e os meios de comunicação para orientarem,informarem e auxiliarem a população. Após algumas horas o caos se instalaria nessas localidades.
Assim, dada a infra-estrutura dos países envolvidos (estou imaginando que estes países possuam infra-estrutura semelhante ao Brasil)
me parece pouco provável que em 8h fossem salvas muitas vidas, mas realmente é um absurdo não terem tentado.
No entanto, não acho a maior falha dos governantes, ficarem de braços cruzados durante essas 8h, mas sim, estando numa região de atividade sísmica, não possuírem mecanismos eficazes para realizarem a evacuação das populações costeiras dessas regiões.
Concluindo, espero que quando um governante leia em um jornal algo desse teor:
"Em 2001, cientistas previram que uma futura erupção do instável vulcão Cumbre Vieja em La Palma (uma ilha das Ilhas Canárias) poderia causar um imenso deslizamento de terra para dentro do mar. Nesse potencial deslizamento de terra, a metade oeste da ilha (pesando provavelmente 500 bilhões de toneladas) iria catastroficamente deslizar para dentro do oceano. Esse deslizamento causaria uma megatsunami de cem metros que devastaria a costa da África noroeste, com uma tsunami de trinta a cinqüenta metros alcançando a costa leste da América do Norte muitas horas depois, causando devastação costeira em massa e a morte de prováveis milhões de pessoas. Especula-se também acerca da possibilidade de tal cataclisma atingir a costa norte brasileira, fato que desperta a preocupação de algumas autoridades, tendo em vista a inexistência de qualquer mecanismo de prevenção de tsunamis no Brasil."
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tsunami
Espero que eles tomem as devidas providências, para que o impacto de uma informação, como esta dos cientistas norte-americanos, possa ser maximizado, salvando o maior número de vidas em uma catástrofe.
(como me alonguei demais, não vou comentar o caso do Haiti).
Sim, Leti, penso que falta humanidade! A questão de os meios nos “consumirem” me lembrou a argumentação sobre os “temes” da Susan Blackemore (link youtube: http://www.youtube.com/watch?v=fQ_9-Qx5Hz4). Felipe, acredito que, muitas vezes, haja falha na comunicação por questões que não envolvam a intencionalidade dos comunicadores, como tu argumenta, mas, em relação aos exemplos aqui trazidos, creio que envolva uma “apatia intencional”, sim! Concordo que, de fato, temos que melhorar a forma como nos comunicamos, mas antes, temos que melhorar os próprios comunicadores (não apenas os profissionais)! Assim, concordo com 1OO Noção de que há irresponsabilidade nesse processo, onde mora a má vontade; contudo, acredito que os governantes exemplificam o que nossa sociedade está: um todo irresponsável. Só que não podemos esperar que a máquina do Estado ou somente a comunicação resolvam o problema. Jeff, compreendo que 8 horas não seriam suficientes para evitar um desastre daquelas proporções, mas se possuímos tanta tecnologia e estrutura para matar, também devemos ter para salvar. Lembro-me de um geólogo da UFRGS, professor Rualdo Menegat, alertando para o fato de que Porto Alegre não tem estrutura alguma para as modificações que estão acontecendo em termos ambientais - ele trouxe dados alarmantes. Se me recordo bem, eu ouvi a palestra dele no início de 2006. Passados 4 anos, o que foi feito?
ResponderExcluirEu não disse, ou pelo menos não tive a intenção de dizer, que 8h não seriam suficientes para salvar todas as pessoas vitimadas pelo tsunami. Eu disse que com a inexistência de estrutura adequada para tal, isso seria impossível. Me parece não ser um problema tecnológico, temos tecnologia para salvar todas aquelas vidas. Falta sim, um plano para retirar de forma ordenada todas elas das localidades de risco e um sistema de comunicação eficiente, que possa comunicar a toda população, o perigo eminente (provavelmente não existem tais mecanismos nesses países).
ResponderExcluirObs. No comentário feito por mim anteriormente, a animação não mostra o tsunami 8h antes de atingir o continente asiático. Ela representa toda a evolução deste fenômeno, desde o seu inicio no oceano indico, até este atingir o continente asiático e africano.
A questão que expus é justamente o fato de não ter havido a ação de uma estrutura (nem questiono eficácia) atuando nos episódios. Se temos tecnologia (e temos que ter, pois possuímos tecnologias bélicas astronômicas) para salvar, é primário que haja planos de salvamento (países asiáticos são especialistas nesse tipo de treinamento por estarem em zonas de alto risco sísmico) e um sistema de comunicação eficiente (inclusive o Brasil é reconhecido por ter um sistema de comunicação de altíssimo nível, um dado tanto quanto irônico).
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